segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O artista, o coletivo e a solitude

Grande parte do tempo que passei no Rio de Janeiro sentia uma extrema necessidade de estar com outros artistas em torno de projetos। Natural. Fazer parte de um grupo, de um coletivo de pessoas com interesses em comum. Estar na ativa. Estar só sem algum trabalho concreto, ou assumir a dúvida de não saber exatamente o que eu queria enquanto artista ou que espaço ocupar parecia uma abominável condenação.

Em poucas palavras, trabalhei constantemente: teatro escola, teatro empresa, festival de esquetes, teatro físico, participações em TV, testes e testes, teatro dança indiana, nova dramaturgia, curtas, oficinas diversas, etc. Diversidade nos conteúdos, nas relações, múltiplas experimentações. Nau solta à deriva das oportunidades. A vida parecia sempre a mesma. Os mesmos ciclos. Sem pausas. Nunca sozinha. Nem sempre comigo.

Onde estava eu nisso tudo? Para onde estava indo?

Entre erros e acertos chegou o grande dia do nada. Nada por decisão. Por necessidade de resgate. Rompimento com o fluxo. Chamo o período de limbo. Um limbo bom. Não tinha nada, não estava com ninguém. Demorou anos para conseguir a façanha.

Quando o artista se permite estar só, tranqüilo, aberto, ele busca seu ritmo, ele passa a ouvir e sentir o que traz dentro de si. Assim é possível aflorar o que de sincero tem para oferecer ao mundo, saber que parcerias pode estabelecer, descobrir o que do mundo toca a sua essência. Abre-se espaço, dentro e fora de si.

A experiência do agir em coletivo e do se deixar tocar pelos outros e por questões extrínsecas ao seu universo pessoal é rica e proveitosa. Rompe preconceitos. Ensina compaixão. Amplia e modifica a percepção sobre as coisas ao redor. Exercita a entrega, o respeito pelo outro e pelo trabalho, pela igualdade da diversidade e liberdade. Reforça a noção de espaço individual e inclusão social. Afinal, na vida de uma maneira geral, estamos sempre em relação à.

As relações devem ser dotadas de valores, não apenas de objetivos comuns. Na minha opinião, uma dupla ou um coletivo que se preze é formado por indivíduos íntegros e conscientes de seus valores, interesses, potência artística e desejos convergentes.

A arte, como a vida, é relação.